sábado, 23 de julho de 2011

Memórias de um Sargento de Milícia

Editora: ATICA
Ano: 1852-53
Download: Megaupload
Análise da obra
O único romance de Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um Sargento de Milícias, publicado em 1852-53 sob a forma de folhetins, difere em muitos aspectos dos romances comumente publicados em folhetins do século XIX, o que explica sua fraca popularidade na época, e sua melhor aceitação na posteridade. O romance tem esse título por narrar a história de Leonardo Pataca, um vadio que acaba se transformando num sargento de milícias no tempo de D. João VI. Memórias de Um Sargento de Milícias é uma obra que contrasta com os romances românticos de sua época e possui traços que anunciam a literatura modernista do século XX, por várias razões. Primeiro, por ter como protagonista um herói malandro (Leonardo é o primeiro malandro da literatura brasileira), ou um “anti-herói”, na opinião de alguns críticos. Segundo, pelo tipo especial de nacionalismo que a caracteriza, ao documentar traços específicos da sociedade brasileira do tempo do rei D. João VIcom seus costumes, os comportamentos e os tipos sociais de um estrato médio da sociedade, até então ignorado pela literatura. Terceiro, pelo tom de crônica que dá leveza e aproxima da fala sua linguagem direta, coloquial, irônica e próxima do estilo jornalístico.

O sentido profundo das "Memórias" está ligado ao fato de elas não se enquadrarem em nenhuma das racionalizações  ideológicas reinantes na literatura brasileira de então: indianismo, nacionalismo, grandeza, sofrimento, redenção pela dor, pompa do estilo etc. Na sua estrutura mais íntima e na sua visão latente das coisas, elas exprimem a vasta acomodação geral que dissolve os extremos, tira o significado da lei e da ordem, manifesta a penetração recíproca dos grupos e das idéias, das atitudes mais díspares, criando uma espécie de terra-de-ninguém moral, onde a transgressão é apenas um matiz na gama que vem da norma e vai ao crime.

Novela de tom humorístico que faz crônica de costumes do Rio Colonial, na época de D. João VI. O romance reporta-se a uma fase em que se esboçava no país uma estrutura não mais puramente colonial, mas ainda longe do quadro industrial-burguês.

Não há idealização das personagens, mas observação direta e objetiva. Presença de camadas inferiores da população (barbeiros, comadres, parteiras, meirinhos, "saloias", designados pela ocupação que exercem). Os personagens não são heróis nem vilões, praticam o bem e o mal, impulsionados pelas necessidades de sobrevivência (a fome, a ascensão social).

Estrutura da obra

A novela está dividida em duas partes bem distintas: a primeira com 23 capítulos e a segunda com 25.

Os episódios são quase autônomos, só ligados pela presença de Leonardo, dando à obra uma estrutura mais de novela que de romance, como já ficou observado.

O leitor acompanha o crescimento do herói com sua infância rica em travessuras, a adolescência com as primeiras ilusões amorosas e aventuras, e o adulto, que, com o senso de responsabilidade, que essa idade exige, vai-se enquadrando na sociedade, o que culmina com o casamento.

Foco narrativo

Memórias de um Sargento de Milícias é romance narrado em terceira pessoa, sendo um narrador-observador quem conta a história. O cinismo bem-humorado, as sistemáticas interferências nas situações sempre divertidas que relata, as ironias e as brincadeiras envolvendo costumes e personagens da época constituem alguns traços marcantes deste narrador, cujo juízo crítico a respeito do que vai documentando algumas vezes revela-se de forma claramente debochada.

Além de romper com a tradicional postura idealizadora do narrador romântico, em relação aos indivíduos e também à terra, o narrador da obra ora suprime etapas narrativas, ora transita da terceira para a primeira pessoa. Assim, ele assume uma cumplicidade de caráter metalingüístico com o leitor, o que significa um anúncio de procedimentos modernistas, também percebido nas conversas com o leitor e nos comentários jocosos que faz à propósito do que conta.

Personagens

Leonardo: anti-herói, herói às avessas, herói picaresco - desde a infância é esperto, vagabundo e mulherengo,  assemelha-se ao protagonista, Macunaíma.

Leonardo-Pataca: oficial de justiça, sentimental, sempre enroscado em suas paixões.

Maria-da-Hortaliça: mãe do herói

Major Vidigal: temido e respeitado por todos.Severo punidor, é, ao mesmo tempo, policial e juiz.

Comadre: protetora de Leonardo, vive tentando livrá-lo dos enroscos em que se metia.

Compadre Barbeiro: outro protetor. Cria o menino como se fosse o seu filho, sonhando um próspero futuro para ele; só que isso não acontece.

D. Maria: velha, rica e bondosa. Era apaixonada por causas judiciais. Tia e tutora de Luisinha, amiga da comadre e do compadre.

Luisinha: primeiro amor de Leonardo. Suas características fogem da idealização dos modelos românticos: era feia, pálida e desajeitada.

José Manuel: caça-dotes, representa uma crítica à burguesia.

Vidinha: cantora de modinas, segunda paixão de Leonardo.

Chiquinha: filha de D. Maria e esposa de Leonardo-Pataca.

Maria-Regalada: amante de Vidigal.

Além desses, há outros como: A vizinha, a cigana, o mestre-de-rezas, Tomás, etc.

Os personagens encaixam-se na categoria de tipos alegóricos, pois não possuem profundidade psicológica e são como caricatura de uma classe social: o povo, a classe média carioca da época.

Nenhum comentário:

Postar um comentário